Sempre gostei de revistas. Em papel. Ainda sou do tempo de lá
por casa haver a Crónica Feminina. Sempre gostei do cheiro da impressão, de
folhear de trás para a frente. Em criança, e quando o Festival da Canção ainda
parava o país, fazia um figuraço com a revista TV Guia que publicava as letras
das canções concorrentes. Anos mais tarde, foram a Bravo, a Top +, a Super Pop,
e ainda mais tarde a Kapa, a Marie Claire, a Elle, a Vogue, a Máxima, a Telva,
a Hola, a Grazia, a Allure, a Chi…enfim, a paixão foi crescendo até que, assim,
sem nunca imaginar, nasce a revista Bastidores.
Foi há já 11 anos. Há 11 anos!
A Bastidores (totalmente feita por mim – até a paginação!) começou
por ser distribuída gratuitamente em recintos de espectáculos. Só tomei noção (será?)
no que me estava a meter depois da transição para as bancas. Vi-me confrontada
com termos que desconhecia em absoluto: lettering, fonts, livro de estilo,
serifa, “cmyk”, targets, restringir o texto a um número de caracteres… E chega
a parte dos números. O número de páginas, de cadernos, o número de
colaboradores, os números muito baixos de publicidade… os números elevados de
gastos…
Para tentar manter a Bastidores, uma revista cultural com
especial destaque para as artes cénicas, nasce a Luxury & Glamour – a primeira
revista em Portugal para mulheres a partir dos 40 anos -, a Ibérica Coast e a
Gentlemen. Todas mensais e com targets diferenciados, ao encontro de
publicidade especifica. Nenhuma delas tinha como missão ou objectivo denegrir
ou prejudicar quem quer que fosse, ainda que sob pretexto de aumentar as vendas.
Ofereci páginas de publicidade – burrice! – sem ter qualquer
retorno, dei clipping até mais não e… nada. E porquê?! Só mais tarde – e talvez
já tarde demais – percebi que quem me tratava por «princesa» quando me cumprimentava,
nas minhas costas questionavam de onde tinha saído «esta saloia», que até já
tinha andado a fazer «uns teatros», ou quem era «esta» para ser directora de
revistas?! Pois…
Tudo já foi dito e escrito sobre mim. Sei quem sempre esteve
ao meu lado e me apoiou, assim como sei quem me prejudicou. Sei a quem devo, o
que devo, quanto devo e a quem dei a ganhar e o quanto ganhou. Agora, sei tudo
isso. Como sei que nem sempre desistir é um acto de fraqueza, pode ser até um
acto de coragem. Ainda que ser empreendedor, em Portugal, é puro suicídio.
A PressCoast entrou em insolvência. Perdi a casa. Perdi anos
de vida com tanta preocupação. Passei fome. Ganhei cabelos brancos e processos –
nenhum deles por difamação ou notícias falsas ou inventadas! E só nunca
conseguiram tirar-me a verticalidade. Coisa que não sabem o que é, aqueles que
rejubilaram com o fecho das minhas revistas, pese embora pouco lhes importasse
que havia postos de trabalho em jogo.
Agora pergunto, como pode alguém de bom senso ficar feliz
com a infelicidade ou o insucesso dos demais?
Como podem alguns órgãos de comunicação social ficar
contentes com o suposto do fecho da revista Cristina? Não tem sido a própria Cristina
a fazer capas todas as semanas, que lhes têm dado dinheiro a ganhar? Será o
receio que os anunciantes deixem as suas publicações e passem a anunciar na
revista Cristina?
Pois não sei… Só sei que a Cristina Ferreira deu mais uma
lição a toda esta gente, que durante as ultimas semanas tanto disseram e
inventaram sobre o assunto.
E o que é que a minha historia tem a ver com a da Cristina
Ferreira? Nada!
Até porque eu nunca tive os recursos da CF. Todavia, desejo-lhe
a continuação de sucesso e espero poder continuar a guardar mais edições da «Cristina»
- para juntar às 24 -, e que não permita que nada nem ninguém transformem o seu
sonho em pesadelo.